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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Intensivão em "Português": Figuras de linguagem

Bom dia a todos!

O assunto a ser trabalhado hoje será a "Estilística" que são os recursos utilizados nos textos (principalmente literários) para conferir à mensagem mais impacto, estilo, beleza ou qualquer outro recurso expressivo. Essas figuras são objeto do estudo da Estilística, que é uma subdivisão da Gramática.
São três as figuras de linguagem:
1) figuras de sintaxe (ou construção);
2) figuras de palavras e
3) figuras de pensamentos.

Vamos começar?

Figuras de sintaxe

Elipse: significa, em gramática, omissão. Essa é a palavra-chave. Quando se omite algum termo ou palavra de um enunciado, tem-se a elipse. Vale lembrar que essa omissão deve ser captada pelo leitor, que pode deduzi-la a partir do contexto, da situação comunicativa.

Exemplos:
Eu vi coisas lindas, realmente emocionantes; ela, coisas abomináveis, terríveis aos seus olhos. [omitiu-se o verbo ver em ela (viu) coisas abomináveis...];
Rico, podia fazer o que quisesse [omitiu-se a oração inteira: (Porque era) rico, podia fazer o que quisesse];
Empreste-me essa folha [omitiu-se de papel: folha (de papel)];
Todos esperamos se faça justiça [omitiu-se a conjunção que: esperamos (que) se faça justiça] 

Zeugma: é um tipo de elipse. Ocorre zeugma quando duas orações compartilham o termo omitido. Isto é, quando o termo omitido é o mesmo que aparece na oração anterior.
Exemplos:
Na terra dele só havia mato; na minha, só prédios. [...na minha, só (havia) prédios]
Meus primos conheciam todos. Eu, poucos. [Eu (conhecia) poucos]
Observação: quando a flexão do verbo omitido é exatamente a mesma do verbo da oração anterior, tem se a zeugma simples. Quando a flexão é diferente, tem-se a zeugma complexa.

Pleonasmo: é a reiteração, a repetição, o reforço de uma ideia já expressa por alguma palavra, termo ou expressão. É reconhecido como figura de sintaxe quando utilizado com fins estilísticos, como a ênfase intencional a uma ideia; sendo resultado da ignorância ou do descuido do usuário da língua, é considerado como um vício de linguagem (pleonasmo vicioso).

Exemplos:
Vamos sair fora! (se é sair, obviamente é para fora)
Que tal subir lá em cima e tomar um bom vinho? (se é subir, obviamente é para cima)
"Eu nasci há dez mil anos atrás" (se é há, só pode ser atrás)
Essa empresa tem o monopólio exclusivo da banana (se é monopólio, obviamente é exclusivo)
A mim, você não me engana (o verbo enganar tem dois complementos - a mim e me; eis um caso de objeto pleonástico)
Observação: um recurso literário bastante difundido é o epíteto de natureza, que não deve ser considerado como um pleonasmo vicioso. Serve, por fins estilísticos, para reforçar uma característica que já é natural ao ser. Exemplos: céu azul, pedra dura, chuva molhada.

Inversão: é, como o próprio nome diz, qualquer inversão da ordem natural de termos num enunciado, a fim de
conferir-lhe especiais efeitos e reforços de sentido. Podem-se considerar como tipos de inversão o hipérbato, a anástrofe a prolepse e a sínquise.
Exemplo:
Sua mãe eu nunca conheci (a ordem natural seria Eu nunca conheci sua mãe).
Hipérbato: tipo de inversão que consiste, geralmente, na separação de termos que normalmente apareceriam unidos, por meio da interposição de um elemento interferente, isto é, algo que interfere. Hoje em dia, porém, costuma-se tomar o hipérbato como sinônimo de qualquer tipo de inversão.
Exemplos:
A roupa, você verá, preta que comprei é linda [aqui o núcleo do sujeito (roupa) foi separado de seu adjunto adnominal (preta) por meio de uma oração interferente].
Compraram as mulheres vários presentes para os maridos (aqui houve a simples inversão entre o verbo e o sujeito).
Anástrofe: é a inversão entre termo determinante (aquele que determina, constituído de preposição + substantivo)
e o determinado, que passa a vir depois do determinante.
Exemplos:
Da igreja estava ela na frente [a ordem natural seria Ela estava na frente da igreja; Da igreja é o termo determinante, que, na anástrofe, veio antes do determinado (frente)]
Aqueles rapazes, sim, por dinheiro são muito ávidos [a ordem natural seria Aqueles rapazes, sim, são muito ávidos por dinheiro; Por dinheiro é o termo determinante, que, na anástrofe, veio antes do determinado (ávido)]
Sínquise: essa palavra vem do grego (sýgchysis) e significa confusão. É a inversão muito violenta na ordem natural dos termos, de modo que a sua compreensão seja seriamente prejudicada. Consiste, segundo alguns autores, em um vício de linguagem, e não em uma figura de sintaxe com fins estilísticos.
Exemplos:
"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante" (ordem natural: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico)
Da verdade aquelas pessoas todas muito honestas você pode acreditar que sabiam (ordem natural: Você pode acreditar que todas aquelas pessoas, muito honestas, sabiam da verdade).
Prolepse (ou antecipação): é o deslocamento do termo de uma oração para a oração anterior.
Exemplos:
O Ministro do Planejamento dizem que vai pedir demissão [o sujeito da oração vai pedir demissão (o Ministro do Planejamento) foi deslocado para antes da oração principal (dizem)]
Essas frutas parece que não prestam [o sujeito da oração não prestam (Essas frutas) foi deslocado para antes da oração principal (parece)]

Assíndeto: Vem do grego, syndeton, que significa conjunção. É a ausência de conjunções coordenativas (aquelas que ligam orações ou termos coordenados, independentes) no encadeamento dos enunciados.
Exemplos:
Ela me olhava, lavava, olhava novamente, espirrava, voltava a trabalhar (não apareceu conjunção alguma para ligar as orações).
Eu nunca tive glória, amores, dinheiro, perdão (não apareceu conjunção alguma para ligar os termos que complementam o verbo ter).
Polissíndeto: é o contrário do assíndeto. É a repetição das conjunções coordenativas (principalmente as aditivas e e
nem), com o fim de incutir no discurso a noção de movimento, rapidez e ritmo.
Ela me olhava, e lavava, e olhava novamente, e espirrava, e voltava a trabalhar (foi repetida a conjunção coordenativa aditiva e).
Eu nunca tive glória, nem amores, nem dinheiro, nem perdão (foi repetida a conjunção coordenativa aditiva nem).
Anacoluto: é a quebra da seqüência sintática de uma frase. É como se o escritor de repente decidisse mudar de ideia, alterando a estrutura e o nexo sintáticos da oração.
Exemplos:
O José, sinceramente parece que ele está ficando louco (perceba que O José deveria ser sujeito de uma oração, mas ficou sem predicado, solto na frase; houve a quebra da sequencia sintática esperada).
Cantar, sei que todos devem cantar (viu como o verbo cantar está sobrando? Parece que o autor decidiu mudar a ordem da oração, sem nos avisar)
Observação: o anacoluto deve ser usado cuidadosamente na linguagem escrita. Exige experiência, estilo e intencionalidade por parte de quem escreve, para que não se confunda com uma confusão mental ou deficiências de estruturação do texto.
Silepse: é a concordância que se faz com a idéia, e não com a palavra expressa. É também chamada de concordância ideológica. Há três tipos de silepse: de gênero (a concordância se faz com a ideia feminina ou masculina); de número (a concordância se faz com a ideia singular ou plural); e de pessoa (a concordância se faz com uma pessoa gramatical diferente da expressa pela palavra)
Exemplos:
São Paulo realmente é linda [silepse de gênero - o adjetivo linda ficou no feminino porque concorda com a ideia (a cidade de) São Paulo]
Vossa Excelência pode ficar tranquilo e calmo [silepse de gênero - os adjetivos tranquilo e calmo ficaram no masculino porque concordam com a ideia: a pessoa a quem se dirige o pronome de tratamento Vossa excelência é homem]
Os paulistas somos bem tratados no Paraná [silepse de pessoa - o verbo ser concorda com a primeira pessoa do plural (nós), apesar de o sujeito expresso ser Os paulistas (terceira pessoa do plural). Com esse recurso, o emissor da mensagem quis passar a ideia de que ele também é paulista; de que ele se inclui entre os paulistas]

A gente não quer só alimento. Queremos amor e paz [silepse de número - o verbo querer ficou no plural, e seu sujeito oculto (A gente) é singular]
Observação: a principal diferença entre silepse de pessoa e de número é que na de pessoa o emissor da mensagem se inclui no sujeito de terceira pessoa do plural. 

Repetição: é a repetição de palavras que tem por finalidade exprimir a idéia de insistência, progressão e intensificação. Quando se repetem adjetivos ou advérbios, é uma maneira de se fazer o grau superlativo.
Exemplos:
Aquela moça era linda, linda, linda.

E, enquanto tudo isso acontecia, a garota crescia, crescia.

O sol estava claro, claro; eu mal podia enxergar.

Onomatopéia: Consiste na criação de palavras com o intuito de imitar sons ou vozes naturais dos seres. É, na verdade,
um dos processos de formação das palavras, que cabe à Morfologia.
Exemplos:
Ouviu o tilintar das moedas (o verbo tilintar imita o som de moedas se entrechocando).
Quando a insultei, slapt! (a palavra slapt imita o ruído provocado por um tapa).

Figuras de palavras

Comparação: é a comparação direta de qualificações entre seres, com o uso do conectivo comparativo (como, assim
como, bem como, tal qual, etc.).
Exemplos:
Minha irmã é bondosa como um anjo (existe uma relação de qualificações entre a irmã e o anjo; houve, pois, uma comparação, que se estabeleceu por meio do conectivo como)
Age o neto tal quais os avós (existe uma semelhança de ações entre o neto e os avós; houve, pois, uma comparação, que se estabeleceu por meio do conectivo tal quais)

Metáfora: assim como a comparação, consiste numa relação de semelhança de qualificações. É, porém, mais sutil e exige muita atenção do leitor para ser captada, porque dispensa os conectivos que aparecem na comparação. É o mecanismo pelo qual se toma "emprestada" a característica de um ser utilizando esse próprio ser como característica. Cabe ao receptor da mensagem saber qual é a característica em comum dos dois seres. Constitui uma das mais importantes e frequentes figuras de linguagem, sendo muito utilizada tanto na poesia quanto na prosa.
Exemplos:
Minha irmã é um anjo (existe uma relação de qualificações entre a irmã e o anjo; como não houve um conectivo que estabelecesse a relação comparativa, chama-se a essa comparação mental de metáfora. A palavra anjo não está sendo utilizada em seu sentido original; foi tomada como uma qualificação.
Cabe ao receptor saber que a característica em comum entre os dois seres é a bondade)
Tenho que viajar muito. São os ossos do ofício (que características em comum têm o ato de viajar muito e os ossos?
É simples: viajar muito é uma das exigências, uma das partes que compõem o trabalho do emissor dessa mensagem; os ossos são algumas das partes que compõem os corpos de alguns seres vivos. Houve a transferência do sentido de componente, algo necessário, da palavra ossos para o ato de viajar.
Cabe ao receptor decodificar essa transferência)

Metonímia: é a utilização de uma palavra por outra.

Essas palavras mantêm-se relacionadas de várias formas:
- O autor pela obra: Você já leu Camões (algum livro de Camões)?
- O efeito pela causa: O rapaz encomendou a própria morte (algo que causaria a sua própria morte)
- O instrumento pela pessoa que dele se utiliza: Júlio sem dúvida é um excelente garfo (Júlio come muito; o garfo é um dos instrumentos utilizados para comer)
- O recipiente (continente) pelo conteúdo: Jonas já bebeu duas garrafas de uísque (ele bebeu, na verdade, o conteúdo de duas garrafas de uísque); Os Estados Unidos assistem ao espetáculo das eleições (as pessoas que moram nos Estados Unidos assistem...)
- O símbolo pela coisa significada: O povo aplaudiu as medidas tomadas pela Coroa (a coroa, nessa acepção, é símbolo da monarquia, do rei).
- O lugar pelo produto: Todos gostam de um bom madeira (o vinho produzido na Ilha de Madeira).
- A parte pelo todo: Havia várias pernas se entreolhando no ônibus (na verdade, eram as pessoas, que têm as pernas, que se entreolhavam).
- O abstrato pelo concreto: A juventude de ontem não pensa como a de antigamente (Os jovens de hoje...)
- O singular pelo plural: O paulista adora trabalhar (Os paulistas...)
- A espécie ou classe pelo indivíduo: "Andai como filhos da luz", recomenda-nos o Apóstolo [referindo-se a São Paulo, que foi um dos apóstolos (espécie, classe)]
- O indivíduo pela espécie ou classe: Camila é, como diz sua tia, uma judas [judas (indivíduo) foi o mais conhecido traidor (espécie, classe) da história]
- A qualidade pela espécie: Os acadêmicos estão reunidos (em vez de os membros da academia...)
- A matéria pelo objeto: Você tem fogo (isqueiro)?

Sinestesia: é a figura que proporciona a ilusão de mistura de percepções, mistura de sentidos.
Exemplos:
Você gosta de cheiro-verde [como um cheiro (olfato) pode ser verde (visão)]
Que voz aveludada Renata tem [como um som (audição) pode ser aveludado (tato)].

Perífrase (ou antonomásia): é uma espécie de apelido que se confere aos seres, valorizando algum de seus feitos ou atributos. Ressalte-se que se consideram perífrases somente os "apelidos" de valor expressivo, nacionalmente relevantes e conhecidos.
Exemplos:
Gosto muito da obra do Poeta dos Escravos (antonomásia para Castro Alves).
O Rei do Futebol já fez mais de mil golos (antonomásia para Edson Arantes do Nascimento).
Tu gostas da Terra da Garoa (antonomásia para cidade de São Paulo)?
Eis a terra do ouro verde (antonomásia para café)
Observação: note que somente as antonomásias referentes a nomes próprios têm iniciais maiúsculas.

Figuras de pensamentos

Antítese: é a aproximação de palavras ou expressões que exprimem idéias contrárias, adversas.
Exemplos:
E Carlos, jovem de idade e velho de espírito, aproximou-se.
O que sempre foi simples tornou-se complexo.

Apóstrofe: é a interpelação inesperada de um ente real ou imaginário que se faz com a interrupção da seqüência do
pensamento.
Exemplo:
Sei de minhas condição vil e efêmera.
Sei também de minhas fraquezas. Tu, que queres aqui? (note que a sequência foi interrompida bruscamente com a evocação de alguém).
Observação: não confundir apóstrofe com apóstrofo, que é o sinal gráfico que indica a supressão de um fonema. Exemplo: Tomei dois copos d'água (o apóstrofo indica que o fonema e foi supresso)
Eufemismo: é uma maneira de, por meio de palavras mais polidas, tornar mais suave e sutil uma informação de cunho desagradável e chocante.
Exemplos:
Infelizmente ele se foi (em vez de ele morreu).
A criança nasceu com problemas mentais (em vez de A criança nasceu retardada)
Gradação: é a maneira ascendente ou descendente como as idéias podem ser organizadas na frase.
Exemplos:
Jonas, inesperadamente, assustou-se. Depois, gritou, aterrorizou-se e morreu (gradação ascendente, do menor para o maior).
Ela é uma bandida, uma enganadora, uma sem-vergonha (gradação descendente, do maior para o menor).
Ironia: figura que consiste em dizer, com intenções sarcásticas e zombadoras, exatamente o contrário do que se
pensa, do que realmente se quer afirmar. Exige, em alguns casos, bastante perícia por parte do receptor (leitor ou ouvinte).
Exemplos:
Olá! Júlio. Como você está em forma (considere-se que Júlio seja um rapaz com mais de 130 quilos)!
Meus parabéns pelo seu serviço (considere-se que o vigia tenha dormido e a empresa tenha sido completamente esvaziada durante um assalto)...
Hipérbole: é o modo exagerado de exprimir uma ideia.
Exemplos:
Estou morrendo de sede.
Você é a garota mais linda do mundo.
Prosopopéia (ou personificação): é a atribuição de características humanas a seres não-humanos. 

Exemplos:
O prédio sorria perante os trabalhadores (sorrir é uma atitude humana atribuída a um imóvel, uma edificação).
Depois que o sol me cumprimentou, dirigi-me à cozinha (cumprimentar é uma atitude humana atribuída a um astro).
Reticência: é a suspensão de uma idéia ou de um pensamento, deixando a cargo do leitor ou ouvinte a interpretação/inferência do que deveria ou poderia ser mencionado.
Exemplos:
Eu fiz toda a minha tarefa. Carla... bem... ela... (podemos deduzir que Carla não fez a tarefa).

Hoje eu tenho meu arroz e o meu feijão. Amanhã... (podemos deduzir que o emissor da mensagem não tenha certeza de que terá algo para comer amanhã; ou de que será feijão com arroz. A correta inferência dependerá do contexto em que a reticência estiver inserta).
Retificação: consiste em consertar uma afirmação anterior.
Exemplos:
Todos os deputados se reuniram para trabalhar. Ou melhor, para fazer-nos pensar que iriam trabalhar.
Ele, aliás, todos eles me traíram.

Espero tenham gostado. Enviem comentários se estão gostando.
Para amanhã estou preparando algumas dicas importantes da gramática.

Bons estudos e até a próxima.

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